"Uma Escolha, Vários Caminhos" [FINALIZADA]

“Uma Escolha, Vários Caminhos”

-- A Decisão --

Passou muito tempo… Muito tempo desde que a Reika morreu nos meus braços… Com autorização da central e do próprio Hikari, tomei o lugar da minha irmã, e tornei-me na Vice Capitã de Sakura. Com esta nova responsabilidade, não poderia deixar-me relaxar, muito pelo contrário: teria de ser melhor do que a Reika alguma vez foi.

O tempo passou, e devido a alguns problemas, acabei por alcançar o posto de Capitã de Sakura. Foi uma decisão forçada, e na altura eu não tinha nenhum dos requisitos para ser uma dos Capitães. E isso viu-se durante a invasão Imaginish. Tive imensos problemas para vencer o ex- Vice Capitão Kira. Aliás, nunca o cheguei a vencer… Algo aconteceu: Kira, assim como todos os outros Imaginish, converteram-se em pó. De certa forma, desintegraram-se. Foi a obra daquela mulher… A mesma mulher que senti quando a Reika morreu… Sim, a primeira Capitã de Sakura… A primeira geração.

Eu sentia-me frustrada. Antes de ser uma shinigami, meu poder não tinha rivais. Meu poder… Não, minha maldição era suprema. Mas, era isso mesmo, uma maldição. Se eu quisesse ser verdadeiramente forte, não podia usar esse poder… Daí ter abdicado dele, para me tornar numa shinigami. Mas, com isso veio uma diferença de nível enorme. Para novatos, que de certa forma eu era uma, estava em um patamar muito superior. Possivelmente igual aos dos Capitães da altura. Mas, em poder, eu estava ao mesmo nível. Apesar do meu rápido crescimento, ainda não tinha atingido o nível necessário… Daí as consequências.

As coisas não podiam continuar assim. Tinha de tomar uma decisão… Tinha de escolher: Permanecer como estou, e eventualmente deitar tudo a perder, ou… Trilhar um caminho obscuro… Tinha de ser… Eu precisava… Sakura precisava de uma Capitã decente, e eu não era uma.

Entrei em contacto com alguém conhecido. Vi-o algumas vezes ao longo da minha vida. E, na Soul Society, e especialmente no Centro de Tecnologia, ele era bem conhecido: Urahara-sama. O primeiro presidente, e possivelmente o melhor que jamais houve. Fiz um acordo com ele: daria o meu corpo e mente aos seus ensinamentos, se ele me permitisse entrar em contacto com aquela pessoa. Um acordo estranho, uma vez que, logicamente, o Urahara-sama ficaria a perder. Mas, não era isso. Eu tornar-me-ia, de certa forma, uma serva dele. Tornar-me-ia num objecto que ele poderia utilizar como bem entende-se. Não era nada negativo, tanto para mim, que aprenderia ainda mais como trabalhar as tecnologias, e, acima de tudo, o Urahara-sama teria uma aprendiza. Sim, vantajoso, mas no futuro…
Assim foi. Deixando tudo em ordem, e avisando que durante uma semana iria desaparecer no Mundo Real, fui ter à loja do Urahara-sama.

-- Primeira Geração --

Estava eu sentada em frente do Urahara-sama. Ele ria e abanava o seu leque, enquanto insistia em dizer para eu não o tratar por “-sama”. Mas, teimosa como sou, não dava o braço a torcer.

Assim que o chá e umas bolachas vieram, começamos a discutir, melhor, o nosso acordo. O Urahara-sama concordava com o proposto, mas queria balúrdios! Eu insistia em dizer que não era nobre, por isso não havia forma de pagar tal quantia. A discussão prolongava-se, sem nenhum dos lados ceder. Eramos os dois muito teimosos, mas achava que o Urahara-sama estava a brincar comigo. Ele nunca fez referência alguma a dinheiro, para agora se lembrar disso. Qual é o seu plano?

Num dado momento, o Urahara-sama passou-me um papel com o nosso acordo, e o preço de cada parte. Fiquei branca! Porque ele levaria dinheiro por algo assim? Pior, tanto dinheiro… Com essa quantia, certamente iria rivalizar com as famílias mais nobres da Seireitei! Perguntava o motivo de ele querer tanto dinheiro, especialmente por isso não fazer parte do acordo anterior. O maldito ria-se, e não respondia à pergunta.

Eu bufava… Estava a ficar nervosa, e não via forma de conseguir fazer o Urahara-sama mudar de ideias… Quando tive uma ideia… Era extrema, sim, mas talvez fosse a única maneira de o convercer… Bati na mesa, e com uma voz firme, disse: “Urahara-sama, não vejo forma de pagar tal quantia… Por isso, prolongo o m eus serviços para si. E, se desejar obter algo que compense os seus interesses, não abrirei mãos ao que posso fazer para o obter. Por favor… Aceite!”

Vários minutos de silêncio se seguiram. Estava de cabeça baixa, esperando uma resposta. O Urahara-sama batia com o seu leque na mesa, ao que parece pensando na minha proposta. E continuava, continuava, continuava… Quando ele disse… Aceito.

Finalmente… Nem aquele olhar sério que ele me fez, quando disse que eu teria de fazer qualquer coisa, me incomodou. Finalmente… Poderei começar!
O Urahara-sama falou um pouco sobre o nosso acordo. E quando tudo estava pronto, e disse a alguém que podia entrar. Perguntei-me quem seria… E… Aquela figura entrou! Logo me levantei e fiz uma vénia profunda… Era ela, a Primeira Geração de Sakura, e possivelmente a melhor mestre de Houhou de sempre… Sim, era ela, a pessoa que tinham considerado traidora, mas que não o era… Era a Kyomi Watanabe…

-- Florestas de Erementia --

Ali estava a primeira e capitã fundadora do esquadrão Sakura, Kyomi Watanabe. Era uma figura ilustre. Nunca imaginei vir a tê-la à minha frente… Logo, eu disse que desde o dia da invasão Imaginish, que esperava ansiosa o momento em que a poderia conhecer directamente. Podia não ser para muitos, mas para mim, mesmo com o passado que teve, ela era sem dúvida uma das figuras mais ilustres que tive o prazer de conhecer. E não foram assim muitas. A não ser alguns capitães antigos, e outros… Mas, a Kyomi-sama estava a um nível muito superior. Eu nem me sentia digna de estar à sua frente.

A ex-Capitã sentou-se próxima do Urahara-sama, e eu aproximei-me da mesa. Seguiu-se um longo tempo em que lhe falei de mim, e de como estava o Sakura. Rimo-nos um bocado, e eu adorei o tempo em que ali estivemos a conversar, mas não era mais tempo para isso.

Começou. O planeamento do meu treino. É claro que não me vou esquecer de dizer que a Kyomi-sama aceitou sem problema algum ser a minha tutora, a minha mestre. Era uma honra enorme para mim. Já para não falar que iria aprender também com o Urahara-sama.

A primeira etapa seria com a Kyomi-sama. Eu iria segui-la para um dimensão estranha, onde iria se realizar a minha aprendizagem e treino. Posteriormente, iria fazer o que tinha de fazer com o Urahara-sama.

Não sei quanto tempo passou naquele local. Não sei… Meses? Anos? Só sei que o tempo passava de maneira diferente, mais ou menos como no Dangai. Os treinos eram puxados… Sofri, magoei-me e desfaleci mais vezes do que qualquer outro desafio que enfrentei. Mesmo comparando com aqueles que me fizeram correr perigo de vida! Mas… Algo me fazia andar em frente. A admiração que tinha por aquela figura, Kyomi-sama… Era uma honra que nunca poderia retribuir, por isso dedicava-me e aprendia tudo o que ela tinha e desejava ensinar-me. Naquele local, não era mais do que uma pupila… Uma simples novata que estava a aprender tudo de novo… Tudo o que era básico… Incrível!

Conforme a dificuldade aumentou, comecei a imaginar-me como um insecto. Mas não um qualquer! Um insecto do meu mundo natal, Erementia. É uma das criaturas mais admiráveis do meu mundo, talvez ainda mais do que os tubarões da areia. Afinal, como um ser tão pequeno e insignificante conseguiu aprender a viver num local tão inóspito, perigo e mortal como Erementia? E, o maior deles todos é o que vive nas florestas… O local mais vil e demente de todo o mundo. O que chamam de pressão espiritual… A floresta simplesmente imite uma pressão espiritual de tal maneira densa que nunca descobri nada capaz de cruzar a sua força. Recentemente, tentei reproduzir a floresta no simulador, mas os registos foram demasiado intensos… Eu própria nunca visitei o local. Somente ouvi história do vovô. Ele falava dos insectos. Assim como eu, tinha uma profunda admiração por eles. Ele falou-me como uma pequena larva que sai do ovo, vai sobrevivendo cada segundo contra todas as expectativas… Sim… Contra todas as expectativas… Podem imaginar-me assim… Sem tirar nem por! O que esses insectos vivem nas florestas… É o que eu estou a viver neste treino. Se não fosse a minha vontade… O meu grande espirito… Eu nunca teria sido capaz de suportar… Teria atingido a senilidade… Mas, não! A Kyomi-sama, assim como a minha vontade, permitiram-me que eu continuasse! Minhas fraquezas diminuíam, e da cada vez que elas diminuíam, eu evoluía! Assim como a larva do insecto, cheguei à fase de ninfa! E posteriormente, à fase adulta! Cheguei ao ponto que nada mais me fazia parar! Eu seguia, e nenhuma parede, nenhum inimigo, nenhuma força me estagnava! Eu… Eu… Eu consegui… Para meu orgulho… Eu superei o desafio! Só para receber as mais calorosas gratificações por parte da Kyomi-sama… Eu chorava à sua frente, enquanto ela sorria para mim… Todo o sofrimento, toda a angústia, toda a vontade de desistir saíram naquele mesmo momento de mim. Foi então, que sem pensar disse que juraria lealdade à ex-Capitã… Uma coisa ela me disse: “Não me jures lealdade, mas sim promete-me que não vais abaixo e que protegerás o nosso Sakura!”

Acenei com a cabeça e com uma grande sorriso disse: “Aye, Capitã… Não! Aye, Mestre e Amiga! Kyomi-sama!”

Possivelmente as últimas frases que lhe pude dizer… Não ficou claro se ela era ou não boa pessoa, mas uma coisa eu podia ter a certeza… Iria cumprir o meu juramento… E iria para todo o sempre respeitar a honra imposta em mim pela Kyomi-sama…

Após a longa semana de treino e aprendizagem, chegou a vez do Urahara-sama… Para meu desagrado, ele quis apenas começar uns dias mais tarde… Mas, ao menos, conseguiu inserir tudo o que desejava na minha cabeça. Para dizer a verdade, não aprendi muita coisa de novo, mas… O que ele me mostrou… Abriu-me os olhos. Entendo agora como ele pensa… Entendo como o Mayuri pensava. O original, é claro. Mas… Serei eu capaz daquilo? Terei eu a formação necessária? …

Algo posso dizer do tempo que passei com a Kyomi-sama e com o Urahara-sama. As nossas acções nem sempre têm explicação. E, muitas vezes, só a longo termo conseguimos tirar o resultado que desejamos delas… Kyomi-sama… Nunca a esquecerei, e espero nunca estar no lado oposto quando estivemos no mesmo campo de batalha… Urahara-sama… O tempo que passei consigo foi deveras esquisito… Mas abriu-me os olhos para o que estava cega. Aos dois, um grande agradecimento.

Que o futuro faça o nosso destino cruzar-se mais uma vez…

Fim…?