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 O Passado Esquecido

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Megumi
Shinigami Camélia
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Megumi

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MensagemAssunto: O Passado Esquecido   O Passado Esquecido Icon_minitime1Dom 30 Set - 19:38

" O Passado Esquecido "

Capítulo I - A Vida de Antes


O Mundo Real. Para os humanos, é a única coisa que existe à face da Terra, já para os mais especiais - e até mesmo aqueles que vieram de outros lados - nada mais é, do que um de tantos mundos.
Tudo começou ali, naquele mundo, há 12 anos atrás, na vida da criança de uma família importante, dos subúrbios de uma cidade no Japão - Karakuracho. O seu nome é Akira Megumi, uma garota alegre, muito eufórica, que gostava de correr por entre os jardins do lado de fora da sua casa, junto com aquelas crianças da sua idade que ela considerava amigos. Ela tinha tudo o que precisava e queria, era muito mimada pelos seus parentes - talvez porque era filha única. Os seus pais, Akira Yui e Akira Takahashi, destacavam-se da maioria dos habitantes pela popularidade e fortuna que os seus negócios ofereciam, o que os deixava num estatuto superior em questão de dinheiro...
Naquela tarde, algo muito especial estava para acontecer: a pequena herdeira da família iria completar os seus 5 anos, e uma festa era indispensável para comemoração. Os preparativos já haviam sido terminados, e os doces, salgados, bebidas e outros já estavam dispostos sobre várias mesas redondas, de panos rosados e enfeitados com laços muito bem feitos no grande salão daquela mansão, cujas janelas tão grandes permitiam iluminá-la completamente, não deixando recantos alguns escondidos pela escuridão.
A campainha tocou harmoniosamente, sinalizando a chegada dos primeiros convidados à tal festa e, Megumi, tão entusiasmada, saíra do quarto numa correria, atravessando os corredores que se estendiam num tapete avermelhado, e descendo a grande escadaria do Hall de Entrada. Estava a usar um belo vestido de tons rosa e branco, e os seus cabelos negros amarrados num único ponto no alto da cabeça, com uma fita que imitava a cor maioritária do vestido. De calçado, usava umas meias finas brancas e umas sabrinas negras. Uma das empregadas, trazendo um tabuleiro de metal cheio de pequenos bolos de chocolate, preparava-se para abrir a porta, mas fora impedida no seu passo pela garota.


- Eu vou! - avisou, passando de rompante pela mulher.

Travara quando já estava praticamente encostada à porta e esticou-se, pondo-se de bicos-de-pés para chegar à maçaneta dourada da porta em madeira castanha escura. Puxou-a para trás e saudou os dois adultos com um sorriso, depressa abaixando o olhar e fitando um garoto de cabelos castanhos - com os seus olhos de diferentes cores - que se escondia entre as pernas do homem de smoking.

- Sabia que vinha! - deu dois passos, e poisou a mão um tanto pálida e fria na mão quente e morena do rapaz. - Anda!

Tirou-o do seu pequeno esconderijo e levou-o para o interior da casa. Arrastava-o pelas escadas, virando à esquerda, e passando por várias portas, até encontrar a última, a única que existia mesmo em frente aos dois. Quando a mão tocou a madeira áspera, a porta deslizara para trás e revelara um quarto bastante simples e arrumado, onde o branco predominava. Ela depressa se sentara sobre a cama fofa, tocando várias vezes no espaço ao lado para indicar o amigo a sentar-se também.

- Sabe, vou ter muitas prendas, e vai haver muitos doces! - comentou na inocência de uma criança, com um brilho nos olhos que apenas ele e ela entendiam, enquanto fazia gestos com os braços para demonstrar uma enorme quantidade de algo.
- Vamos roubar alguns sem que os adultos nos vejam? - de um rosto tímido, demonstrado à entrada, passava a um rosto alegre com uma ponta de traquinice.
- Vamos Ko-chan! - respondera-lhe num sussurro enquanto se levantavam e deixavam o quarto na brincadeira.


Zanetti Kouichi é um garoto de uma família importante Italiana, um pouco tímido, de cabelos castanhos e olhos da mesma cor e, também, o melhor amigo de Megumi. A garota era mais velha que ele alguns meses, e por isso sentia-se responsável sobre ele, protegendo-o das outras crianças quando estas molestavam ele por causa da sua personalidade tímida. Já se conheciam com apenas meses da sua vida, embora não se recordassem agora disso, lembravam-se perfeitamente das suas brincadeiras e traquinices de há dois anos atrás. Eram inseparáveis, e não havia ninguém que conseguisse abalar a sua amizade. Quando tinham as suas rixas por causa de partilha de brinquedos, resolviam-nas facilmente, utilizando um à vez, ou até mesmo juntos.
Descendo as escadas, rapidamente deram com o salão e depararam-se com um obstáculo entre eles e o seu objetivo: os doces. Estavam lá os seus pais, a conversarem alegremente sobre assuntos relacionados com negócios e famílias, coisas que Kouichi e Megumi não mostravam qualquer interesse e simplesmente ignoravam. Silenciosamente, aproximavam-se da mesa mais perto deles - à retaguarda - e Megumi atreveu-se a esticar o braço para alcançar duas pequenas bolas de bolo de chocolate.


- O que estão os dois a tramar desta vez? - uma mulher alta, com um vestido semelhante a de Megumi, de cabelos negros, compridos e de olhos verdes aproximava-se de Megumi, e todos os olhares dos ali presentes estavam voltados para as crianças. - Então, Megumi, já te disse que não podias comer doces antes de todos chegarem!
- Mas mãe... - ela baixou a cabeça e colocou a mão atrás das costas, passando discretamente os bolos a Kouichi enquanto se fingia triste. - É só um! Prometo!
- Vamos, Yui, deixa eles, o que faria mal um bolo ou dois? - desta vez, foi um homem vestido num smoking cinzento, de olhos avermelhados e cabelo negro que falara, mostrando um sorriso compreensivo.
- Francamente, Takahashi! É por causa do seu relaxo que ela faz das suas! - reclamou a mulher, pondo todos a rir.


Aproveitando-se da situação, Megumi e Kouichi saíram a correr da sala, rindo-se do seu 'crime' cometido e deixando a mãe de Megumi a barafustar com os dois. Foram para o jardim, estavam a brincar de pega-pega quando vários outros convidados começaram a chegar. Os adultos, dirigiam-se ao salão onde encontrariam os pais da aniversariante e começariam as suas conversas, já as crianças - amigas de Megumi e Kouchi - iriam ao encontro dos dois e adentravam a brincadeira.
Em poucas horas, todos estavam presentes, dentro do grande salão enchendo-o completamente. O ruído de várias conversas sobressaía-se sobre a música relaxante, e muitos bebiam de champanhe e provavam as iguarias apresentadas. Já as crianças deliciavam-se dos sucos de vários sabores e - maioritariamente - dos bolos, dando uma corrida ali e aqui, indo aos encontrões com algumas pessoas, e vagueando pela casa, tornando aquilo numa verdadeira funçanata.
Na hora marcada, o pai de Megumi chamou discretamente uma das empregadas e avisou-a para tratar de chamar todas as crianças para aquele lugar, pois estava na altura da cantiga. Olhou em volta, e agarrou-se a uma colher que utilizou para bater devagar no copo de champanhe sobre as mãos, chamando a atenção de todos.


- Atenção por favor! - quando certificara-se que todos se encontravam em silêncio e com atenção, continuou. - Espero que estejam a gostar da festa, pois foi tudo preparado com muito cuidado. Se quiserem saber quem fez todas estas iguarias, posso dizer que se tratou da nossa empregada, Izumi. - abrira o braço esquerdo em direção a uma senhora de cabelos curtos já acinzentados e algumas rugas no rosto que anunciavam a idade. - Está na hora de partir o bolo, e por isso mesmo, chamo aqui a protagonista deste dia e a causa de todos nos termos juntado neste dia especial!

Megumi sentira um aperto no coração, e a cara a ferver-lhe. Estava corada, e nervosa pois muitos olhares estavam sobre ela. Agarrara a mão de Kouichi que estava no seu lado e apertou-a, levando-o com ela pelo corredor agora aberto entre pessoas, sussurros e olhares curiosos. A garota jovem finalmente alcançara o seu pai e esboçara-lhe um sorriso que o mesmo fez questão de retribuir. A sua mãe, ao lado do marido, avançou em frente e agarrou a menina ao colo, obrigando-a a largar Kouichi contra a sua vontade. Uma outra empregada surgiu com um carrinho coberto num pano branco e um bolo grande - de três camadas - de chocolate, em cima dele. Existiam 5 velas cor-de-rosa em roda da primeira camada, estas, já se encontravam acesas e prontas a serem apagadas. A cantiga tradicional começou num burburinho e foi aumentando à medida que todas as vozes se sincronizavam e as palmas batidas fossem constantes. No fim da canção, Yui elevou a filha até à altura das velas, esperando Megumi assoprar, mas esta não o fez, sem antes sussurrar algo para a mãe. Assentindo com a cabeça, Yui pedira ao marido para levantar também Kouichi, e os dois assopraram as velas ao desejo da aniversariante. Vários assobios, risos animados e palmas surgiram de todos os lados enquanto os dois amigos eram levados novamente ao chão. Kouichi puxara Megumi para um canto mais calmo e sussurrara-lhe alguma coisa ao ouvido, afastando-se depois e fazendo uma cara triste. Lágrimas formaram-se no rosto da jovem e ela abraçara o amigo subitamente, deixando-o surpreso, e então, saiu a correr. Estava tudo pronto para o bolo ser cortado e distribuído pelos convidados, ninguém notara aquela situação entre os dois amigos e a festa fora um total sucesso.
Os convidados começaram a partir depois do bolo ser partido e as prendas dadas aos pais da garota. No salão, já não havia vestígios de que uma festa haveria acontecido ali, por causa do bom trabalho dos empregados naquela casa. Os pais da garota despediam-se da maioria das família e Megumi estava agora sentada sobre um baloiço no jardim, sozinha, e não se despedira de Kouichi, evitando vê-lo. Fixava o gramado verde com um olhar pensativo e preocupado. Notando o comportamento estranho da filha, Yui sentiu-se obrigada a averiguar o que se passava. Apareceu por detrás e sentou-se no baloiço livre ao lado da garota.


- O que se passa, Megumi? - sempre com um sorriso caloroso no rosto, a gentileza dela fazia-a parecer a pessoa mais serena do mundo.
- Porque Ko-chan vai embora? - disse ela num tom visivelmente perturbado, referindo-se às palavras que anteriormente causaram-lhe lágrimas.
- Sabe... - engolira em seco, ela não sabia exatamente o que dizer para reconfortar a filha, já que ela tinha conhecimento da razão. - Ele tem de partir, porque a família dele precisa, mas ele sempre será seu amigo.
- Mas ele vai embora... Não vou poder falar nem brincar com ele mais... - observava ela, enquanto as lágrimas voltavam a assomar-se no canto dos olhos.
- Mas ele continuará seu amigo! Sabe, a amizade supera até a distância. Você não precisa falar com ele para que ele seja seu amigo. Um dia mais tarde, tenho a certeza que vocês se encontrarão de novo. - ela fitara a filha nos olhos e sorrira.
- Você jura? - a garota erguera o dedo mindinho esquerdo até à mãe.
- Juro! - fazendo o mesmo gesto, unira os dedos num sinal de juras.
- Então é verdade! - um sorriso acabou por aparecer no rosto da garota e ela saltou do baloiço, correndo pelo jardim.
- Não se afasta muito, Megumi! - avisou Yui, com o típico ar maternal.
- Sim mamã! - parou, acenou para a mãe, e voltou a correr.


Megumi divertia-se correndo atrás de borboletas, rebolando na grama, e brincando com um pequeno cachorro que sempre estava por aquelas bandas. Mas o que ela não sabia ainda, é que iria ter uma companhia nova, um amigo novo para fazer.
Quando já se encontrava a anoitecer, a garota deitara-se sobre o gramado como já era gosto dela fazer, para observar aquele céu laranja tão belo e único para ela. Subitamente, começou a sentir alguma comichão no olho esquerdo e começou a esfregá-lo, e depois, fora nos dois. Após parar de os esfregar e abri-los de novo, encontrou um rosto que a olhava curioso. Era um garoto de cabelo vermelho espetado, e tinha vestido uma roupa negra estranha. Ela sentou-se rapidamente, assustando-se com a aparição e depois começou a puxar o tecido negro por curiosidade.


- Que roupa estranha que você tem, Onii-san. - tomara a liberdade de o chamar logo assim, embora não o conhecesse.
- Você... Você consegue ver-me? - surpreso, o garoto poisara ambas as mãos nos ombros de Megumi e fitava-a com bastante atenção. - E você tem uns olhos muito estranhos! De duas cores.
- Claro que eu consigo ver você! Porque não poderia eu ver você? - para Megumi, nada do que ele estava falando fazia sentido. - Ah! A mamã disse que chama heto... heto... heterocromia!
- Não importa. - ele sorrira-lhe e depois começava a puxar as suas bochecas. - Você é bem engraçada!
- Aaah! Pára! Isso dói! - ela batia nele para que ele parasse e quando ele a soltou, ela esfregava as suas bochechas. Olhara para a cintura dele e vira algo curioso. - O que é isso ai Onii-san?
- Pare de me chamar assim! Meu nome é Kirigaya Kazuto! - ele depressa colocara a mão sobre o objeto à sua cintura. - Isso é uma espada, eu uso ela para a minha... Eer... Profissão!
-Ka-onii-san! - ela riu, e agora fitava o garoto bastante mais velho com um rosto atónito. - O que é uma profissão?
- Ah... Bem... É tipo um trabalho, quer dizer, é um trabalho. - ele poisara a sua mão na cabeça dela e sorrira. - Quando você crescer também terá uma!
- Sério?! Então também poderei ter a minha espada?! - os olhos dela brilharam.
- Hahah... Pois... Sim, talvez... - dissera-lhe, coçando a cabeça. - Não é melhor você voltar para sua casa? Seus pais podem andar procurando você.
- Não faz mal, não faz mal! Eu sempre estou aqui vendo o céu! - a garota apontara para o céu, e depois voltara a cabeça para o lado esquerdo, onde a sua casa estaria. Depois soltara um grito. - Que estranho! A minha casa está estranha!
- Hum? Como assim, estranha, garotinha? - o desconhecido parecia não perceber o que ela queria dizer.
- Para de me chamar garotinha! Meu nome é Akira Megumi e eu fiz cinco anos hoje! - ela estendera a mão aberta para a sua companhia. - É que ela tá meio... Como que chama? Des....desfocada! Que estranho!
- Tá, tá me desculpe, Megumi-chan! E muitos parabéns pelo seu aniversário! - e então, ele colocara um rosto sério, face às últimas palavras da pequena. - Desfocada?
- Megumi-chan! - Ao longe, a mãe dela gritara, esperando a filha responder.
- 'To aqui manhé! - gritou também, colocando as mãos ao lado da boca em forma de concha.
- Vem para dentro! - Avisara.
- 'Tá mãe! Tou indo! - ela acenara lá do fundo, e depois voltara-se para o novo amigo. - Vou embora agora Ka-onii-san! - agarrara a mão dele e apertara. - Você é meu amigo, verdade?
- Hã? - surpreso com as palavras dela, ele acabara por sorrir. - É, eu sou! Eu virei visitar você sempre que eu puder Megumi-chan.
- 'Tá prometido! - prendera o mindinho dela no dele, e depois correra para perto da mãe. O garoto acenara para ela para se despedir lá ao longe.
- Megumi-chan, estava falando com quem? - a mãe dela parecia confusa.
- Com o meu novo amigo! O Ka-onii-san! - respondeu ela com um sorriso, voltando a esfregar o olho esquerdo como à pouco.
- Novo amigo? - voltara-se para trás, mas não vira ninguém. - " Ela tem um amigo imaginário? "
- Mamã! - chamou ela, puxando o vestido que Yui levava vestido.
- O que foi Megumi? - olhara para a filha enquanto entravam em casa e ela fechava a porta.
- Porque as escadas estão des...des...desfocadas? - perguntava enquanto apontava para as escadas.
- Desfocadas? - Yui olhava para ela confusa.
- Oh! Agora não está! - dizia ao ter tapado o olho esquerdo. Depois tirava a mão do olho. - Agora está desfocada!
- Hum... - Yui ficava pensativa, e um pouco preocupada, pois aquilo poderia ser o início de um problema de visão. - Vem comigo Megumi.


Puxando a garota pela mão, a mãe subia as escadas e levava-a em direção ao escritório do pai, não só preocupada com o fato de que algo de errado estava havendo com a visão da filha, mas porque não sabia se era saudável ela ter um amigo imaginário - ou pelo menos - assim julgara.
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Megumi
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MensagemAssunto: Re: O Passado Esquecido   O Passado Esquecido Icon_minitime1Qua 17 Out - 19:43

" O Passado Esquecido "

Capítulo II - Mudanças


- De fato, isto é muito estranho. - o homem apressava-se a puxar a máquina contra ele, fazendo-a mover-se de lugar devido às rodas que possuía assentadas sobre o chão. - Nunca vi este fenómeno antes.

Com o indicador direito, este ajeitava os óculos um pouco mais para cima, e metia-se a coçar a barbicha grisalha enquanto rodava os olhos de um lado ao outro, num sinal de que estaria a pensar sobre alguma coisa. Prendeu os dedos maltratados e enrugados à volta da cadeira azulada e puxou-a, dando a volta, sentou-se e encarou a pequena garota heterocromática com bastante interesse e curiosidade. Já ela, mantinha-se quieta no seu lugar, fixando o homem de meia-idade com algumas duvidas - presentes nos seus olhos brilhantes.

- Mas, Doutor, não há nada que se possa fazer? - a voz calma, ainda que preocupada, da sua mãe ouvira-se naquela pequena sala, enquanto massajava, inconscientemente, os ombros de Megumi.
- Eu nunca vi alguém que possua miopia num grau tão adiantado, sem que o outro olho fosse prejudicado também. É a primeira vez. - embora a situação pudesse ser preocupante, este não se privou de sorrir para a garota e passar-lhe a mão pelos cabelos, despenteando-os. - A solução seria ela andar com um monóculo.
- Se essa é a solução, parece-me que não temos outra alternativa. - desta vez, quem se pronunciara, fora o seu pai.
- É muito grave, papá? - Ela levantara a sua cabeça até prender o olhar inocente no rosto daquele homem, ela começava a sentir-se assustada, pela forma como falaram, parecia ser algo de suma importância.
- Não se preocupa com isso, Megumi. - este agachou-se, ficando à altura da filha, dava-lhe uma festa na bochecha e procurava explicar-lhe o que iria acontecer de uma forma divertida. - Você vai parecer aqueles senhores muito importantes, de bigode, com uma única lente sobre os olhos, sabe? - o seu pai dobrara o indicador esquerdo, de modo a formar um círculo com as mãos, e depois aproximou-os do seu olho. Com a outra mão, fingia pentear um bigode.


A pequena que, ainda ontem, havia completado os seus 5 anos, não pudera disfarçar um riso divertido. A forma como o seu pai colocava as coisas, deixava-a mais sossegada, dava-lhe mais confiança, e permitia-lhe ver as coisas de outra forma. Agradecendo àquele oftalmologista, os três deixaram a sala, caminhando por corredores banhados em branco e castanho das madeiras. Assim como no caminho da vinda, para lá tiveram que dar muitas curvas, passar por várias portas, e descer outras tantas escadarias - o que confundia um pouco Megumi - mas esta não se perdia, porque os seus pais estavam lá, sempre a empurrá-la pelas costas quando esta se desviava da rota original.
Em poucos minutos, encontravam-se todos encostados sobre um balcão acinzentado, esperando que aquela mulher, a que estava de serviço na altura, se apressa-se a dar-lhes o troco do pagamento daquela consulta. Megumi tentava, a todo o custo, subir por ali acima e puder visualizar o que estava na secretária do lado de dentro, mas era-lhe impossível, pelo menos com a altura que ela tinha até então. Desistindo prontamente, decidiu esperar pelos pais sentada sobre aqueles bancos vermelhos escuros almofadados, que se encontravam imediatamente ao lado da entrada para aquele edifício. Aquela questão parecia demorar demasiado, a pequenina começava a ficar aborrecida por nada fazer naquele lugar e, por isso, começava a olhar à sua volta, procurando alguma coisa de divertido e interessante que ela pudesse fazer. Saltou do banco, e acabou por embater numa pessoa sem se dar conta. Consequentemente, a heterocromática acabava sentada, mais uma vez, sobre aquele banco. Esfregava o nariz como um sinal de dor, e então, para saciar a sua curiosidade, acabou por fixar o culpado da sua pequena dor, que era bastante mais alto que ela. Possuía umas vestes simples: uma tshirt branca e calções da mesma cor. Não tinha sapatos, não, este, estava descalço e possuía uma estranha corrente agarrada ao peito. Encarava Megumi com um olhar bastante ríspido, o que acabou por amedrontá-la um pouco, mas a sua inocência e curiosidade de uma criança, venciam - sem muitas dificuldades - o medo que sentiu a início.


- Quem é você? E porque você não tem sapatos? - a garota perguntava, fixando-o à altura do rosto, embora o indicador apontasse para o chão.
- Pequena... Você consegue ver-me? - de olhar ríspido, aquele homem de olhos azuis claros, passou a ficar com uma grande admiração. - Então você consegue ver os mortos? Que raro.
- Os...Os... Os mortos? - Megumi saltara do seu assento, isso chamara a atenção das várias pessoas que por ali passavam, incluindo os seus próprios pais.
- Exato. Não sabe que eu não estou vivo? Repare, ninguém pode ver-me. - para lhe provar que estava a falar a sério, pusera-se em frente a uma das pessoas que passava por ali apressado, e esta simplesmente atravessou-o, como se ali não estivesse nada.
- Hah! Tenho medo! Tenho medo! - Megumi não acreditava que acabara de ver isso, estava assustada, aquilo não deveria ser possível. Correu para os pais, apertou as calças da mãe nas mãos com bastante força e encostara a cabeça às pernas.
- Não tenha medo, eu não lhe faço mal. Embora... Tenha cuidado, já vi por ai outros espíritos que não são assim tão bondosos. Se cuida, está bem? - ele caminhara até Megumi, inclinando-se, colocara uma mão sobre a cabeça dela e sorrira-lhe. Queria demonstrar que realmente não estava ali para lhe fazer mal.
- Você até não parece mau, Onii-chan! - movimentara um braço, agarrara-lhe os calções e puxava-o determinadas vezes. Ele despedira-se com um aceno e partira em direção à porta da saída.
- Com quem você está falando Megumi? - a sua tutora, já com várias moedas e notas na mão, voltara-se até à sua filha, varrendo o lugar com os olhos, em busca de uma possível pessoa.


Ainda antes de desaparecer na luz do exterior, o homem ainda jovem ergueu o braço e colocou o indicador encostado aos lábios, pedindo-lhe silêncio. Megumi concordou com a cabeça e sorriu-lhe, acenando para ele, como uma despedida - talvez eternamente.

- É segredo! - concluiu ela, fazendo com que os pais se entre olhassem, rissem e encolhessem os ombros.

Começando com passos lentos, a mulher de cabelos negros despejou as notas e moedas para dentro do bolso das suas calças e poisou a sua mão nas costas de Megumi. Com um pequeno empurrão, a garota começaria - também - a andar ao lado dos pais e, juntos, deixaram aquele edifício. O sol abrasador, demasiadamente brilhante, bloqueara a visão dos três em meros segundos, permitindo-lhes a seguir, visualizar uma rua limpa, onde pessoas circulavam de todos os lados possíveis, onde carros atravessavam a estrada retilínea e até os próprios animais irracionais corriam. O seu pai fixara o céu com bastante alegria, inspirando fundo, chamou a atenção das outras duas companhias para o mesmo lugar. Agora estavam os três a olhar para um céu bastante azulado, onde nuvens não existiam.

- Que belo dia, certo? - ele perguntava ao acaso, num tom um pouco despreocupado.

Ninguém se atrevera a responder, não era preciso, todos já sabiam as respostas que iriam sair daquelas bocas por isso, palavras eram desnecessárias naquela cena. Agarrando na mão esquerda de Megumi estava a sua mãe, já na direita, estava o seu pai, colocando-a entre eles automaticamente. Começaram a caminhar pelas ruas bastante alegres, entretidos com os saltos e risos de Megumi - que começavam a ser bastante frequentes depois que o pai decidira levantá-la no ar e voltar a descê-la.
O seu destino era simples: um oculista, uma loja onde fosse possível encomendar o tal monóculo antes mencionado, para a pequena garota, que tão estranha começava a parecer. Não fora preciso ir tão longe, para puder dar de caras com uma, ao atravessar aquela rua sempre em frente, virar à esquerda e voltar a seguir em frente, depois do oftalmologista. Adentrando o local, o espanto de Megumi e o interesse pelos vários modelos dos óculos revelou-se, obrigando a Yui alertá-la para que não mexesse, nem agarrasse, em nada que não fosse seu. Enquanto a garota estava entretida a observar e a tentar dizer os nomes das várias marcas, o casal dirigiu-se ao balcão do lado esquerdo, onde uma mulher os esperaria para descobrir o que eles pretendiam. Explicada a situação, mostrados os papeis que trouxeram do oftalmologista, a encomenda do monóculo fora feita, porém, como era raro a necessidade de venda desse tipo de produto, iria ainda demorar alguns dias para que a lente estivesse pronta a ser usada. Um pouco a contragosto, os pais tiveram que concordar com os termos, e imediatamente deixaram a loja, respondendo a questões feitas pela filha, sobre quando iria ter o seu monóculo, como ele seria, e todo o tipo de questões que uma criança de 5 anos faria.
Assim como os acontecimentos estranhos que vieram a surgir para a jovem, aquela rua estava agora repleta de pessoas semelhantes àquele que ela conhecera no edifício. Todos eles possuíam correntes presas ao peito, umas eram mais compridas que as outras, mas as propriedades, a forma, a cor e tudo o resto era igual. Algumas seguiam ao lado de outras pessoas que mais pareciam ignorá-los, outras aparentavam estar sozinhas, tristes, ou zangadas, e ainda havia outras, cuja face conseguia demonstrar uma felicidade ilusória. Megumi não conseguia evitar ter algumas dúvidas sobre isso, e ainda pensou em questionar os pais, mas esqueceu essa questão por causa da promessa feita àquele estranho sem sapatos.
De vez em quando, o seu olho ardia, obrigando-a a coçá-lo constantemente, o que resultava numa cor vermelha em volta desse mesmo olho e, misteriosamente, aquelas pessoas desapareciam subitamente do nada, voltando ao piscar dos olhos. Embora tendo apenas 5 anos, ela podia perceber que alguma coisa naquela falha de visão era anormal e que, provavelmente, era a origem do motivo pela qual ela poderia ver outros seres que mais ninguém conseguia. Já os pais, pareciam ficar incomodados quando esta coçava o olho, e avisavam-na constantemente para o parar de fazer - mesmo quando o ardor e a comichão eram muita.
O almoço fora uma grande festa, tinham ido ao restaurante favorito da pequena, apenas por casualidade de estarem lá perto, e depois, a volta para casa fora inevitável... Assim que puseram os pés sobre a grama verde que se alargava pelo terreno à volta da casa, Megumi afastou-se dos pais e automaticamente se dirigira aos balouços, na sua correria e euforia do costume. Os tutores, parentes, mantinham-se sentados sobre um banco que existia do lado de fora da casa, conversando entre si, deitando um olho a Megumi de vez em quando, e procurando achar uma razão para este estranho acontecimento aos olhos da pequena. Talvez tivesse a ver com a sua heterocromia, talvez esse estranho fenómeno também tivesse prejudicado a visão do olho mais claro - o de verde. O que eles não sabiam, é que haveria coisas mais importantes a pensar, mais importantes a preocuparem-se porque, em breve, poderiam estar às mãos de um massacre, de uma morte invisível e inexistente, segundo suas crenças. Aquela iluminação toda sobre a cabeça de Megumi, aquele bonito tom amarelado daquele dia, desaparecera subitamente - apenas perto de Megumi. A sombra enorme erguia-se sobre o seu corpo e preparava-se para ameaçar a sua vida. O balouço parou, a garota movimentara a sua cabeça para o lado esquerdo e vira o corpo musculado e castanho, possuindo um buraco no meio do peito. Subira o olhar, tremendo, e deu de caras com a caveira, com as garras erguidas no ar, prontas a descer e a despedaçar a carne. O rugido deu-se então, a garota saltara do balouço e este fora simplesmente destruído com o mover da mão daquele monstro. A pequena começara a berrar, chamando a atenção dos seus ente queridos, horrorizados por verem todos aqueles ferros a serem esmagados sem que nada estivesse ali - ou pelo menos- eles não o sabiam.


- Mãe, mãe! Tem um monstro, tem um monstro! - gritava repetidamente, atravessando o terreno o mais rápido que conseguia, apenas desejando chegar perto dos seus pais rapidamente.
- Megumi! O que está havendo filha? Que monstro? - assim como Takahashi, Yui não conseguia perceber nada do que Megumi estaria dizendo, não conseguia ver nada e muito menos arranjar explicação para o balouço estar agora feito em pedaços.
- Humana... Sua energia espiritual é muito mais alta do que o costume! Você parece deliciosa! ME DEIXE TE DEVORAR! - com um rugido mais forte, o monstro saltou, bloqueando o caminho à frente de Megumi e fazendo-a cair sobre a grama. Ela gritava assustada, enquanto procurava mover-se para trás. - Você tem uma cor curiosa nos seus olhos, eu gosto desse verde, quero ele para mim! Então, eu vou arrancá-lo primeiro!

Ela parou, fechou os olhos, estava com medo, muito medo, amedrontada, com a presença daquilo que supostamente só seria real em séries de ficção, ou em sonhos, em pesadelos. Os pais levantaram-se de imediato do seu assento e começavam a correr em direção daquela que julgaram estar sozinha, querendo ajudá-la, querendo perceber o que a levara a ficar tão em pânico. E as unhas negras e afiadas começaram a descer sobre o rosto de Megumi.
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Megumi

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MensagemAssunto: Re: O Passado Esquecido   O Passado Esquecido Icon_minitime1Sáb 20 Out - 22:20

" O Passado Esquecido "

Capítulo III - Transformação


As gotículas vermelhas vivas atravessaram à frente dos olhos verdes de Yui e dos vermelhos do seu marido. Megumi tinha agora um corte longo sobre o olho esquerdo e não pudera evitar tapá-lo com a mão, numa tentativa fútil de controlar a dor. Agarrando-a firmemente sobre os braços, estava o misterioso homem de cabelos vermelhos, trajando roupas de cor negra. Aos olhos dos seus pais, Megumi estava a voar, a flutuar sobre o ar deitada, a fazer uma coisa julgada impossível. Chegaram ao chão, aquela besta - culpada pela ferida de Megumi - voltara-se para ambos, zangado pela sua presa escapar.

- Você está bem, Megumi? - o Shinigami encarava-a preocupado, percebendo de imediato a ferida no olho. - Me desculpe, deveria ter chegado um pouco antes...
- Ka-onii-san... - a pequena garota, apesar das caretas de dor e terror, conseguia demonstrar-se surpresa.
- Megumi! - a mãe gritara, sem saber se deveria ficar surpreendida ou assustada.
- Mãe! Está tudo bem! O Ka-onii-san está aqui, ele vai destruir o monstro! - a garota saltara do colo do recente amigo e começava a correr contra a mãe.
- Não vai escapar! - o monstro ousara atacá-la mais uma vez.


As garras arrastaram-se pelo solo, levantando poeira e pedras e ergueram-se pelo ar, ameaçando a vida de Megumi pela segunda vez num dia. Ouve uma faísca, algo havia embatido contra outro algo no ar e causado uma pressão poderosa. A lâmina branca parara as garras negras do demónio, salvando Megumi pela segunda vez.

- Cuidado Megumi-chan! - ralhou o salvador. - Você precisa sair daqui agora! Vá com seus pais!
- Mas Ka-onii-san, você também...
- Não discuta! - irrompeu. - Esta besta não está brincando, ele quer tomar a sua vida! - com um empurrão, o monstro recuou alguns passos, dando provas, mais uma vez, de que algo estava ali, embora terceiros não o vissem.


A heterocromática conseguira alcançar os pais, estes abraçavam-na com força, embora não percebendo a situação, sabiam que algo não estava bem.

- Megumi, o que está havendo? - após o forte abraço, a mãe encarara-a, apercebendo-se do olho danificado. - O seu olho! Como isso aconteceu?!
- Filha, quem é esse ''Ka-onii-san''? - o pai pronunciava-se, mantendo uma aparência calma, embora os seus olhos denunciassem a preocupação que estava a ter.
- Não importa mãe! Já não dói! - mentiu com um sorriso, retirando a mão do olho, visualizou o sangue e arrependeu-se, voltando a colocar a mão sobre a ferida. - Mamã, papá! Precisamos sair daqui, o monstro quer comer-me!
- Mas que monstro, Megumi?! - Yui começara a ficar aflita, duvidando das palavras da filha ainda assim. - E como você fez aquilo? Como é possível que você voasse?
- Não flutuei! - com tantas perguntas, a pequena ficava irritada, ela queria simplesmente sair dali, embora os seus pais não o vissem, ela podia ver a criatura, e temia-a bastante. - Foi o Ka-onii-san que me salvou!


Mais um choque, desta vez, o Hollow atingira a casa daquela família, esmagando parte da mesma. Os pais de Megumi entraram em pânico, agarraram na filha e começaram a afastar-se do edifício. Ao longo do percurso, atrás dele, várias marcas começavam a aparecer, como se algo os perseguisse constantemente - Megumi gritava. O Shinigami conjurara uma técnica, a bola de fogo vermelha atingira a carne de um dos braços e obrigara o monstro a tombar, dando mais tempo a Megumi.

- Vai Megumi! Vá para o mais longe que conseguir! Eu juro que irei pará-lo! - o homem agarrara firmemente na sua espada, sorrindo, acenou à garota e saltou sobre o gigante, acabando por ter um braço perfurado pelas garras da criatura irritada.
- Não! Onii-san! - debatendo-se nos braços do pai, contorcia-se procurando libertar-se e socorrer o amigo.


Sem sucesso, ela via-se cada vez mais distante da casa, as lágrimas salgadas começaram a assomar-se no rosto e, parte delas, acabavam por tomar a cor vermelha do sangue. Já bastante afastados da casa - embora esta ainda fosse visível do outro lado da rua - foi poisada sobre o chão, encarada pelo pai instantaneamente.

- Megumi, seu amigo está nos protegendo, não é verdade? - questionara, como se soubesse do que Megumi falava.
- Mas o que...
- Yui! - encarou a mulher com um olhar severo que a obrigou a calar-se. - Já é hora de acreditar nela! Como você explicaria o balouço destruído, o chão arranhado, os choques, as poeiras, o ruir da nossa casa?!
- B-bom...
- Megumi, filha... - passou os dedos pelo rosto, descendo-os pela ferida, pôde perceber o problema que ali estava, as mãos encheram-se do seu sangue. - Esse monstro... Ele é grande não é verdade? E ele tem uma máscara branca, certo?
- Ele é gigaaaante! Tem um buraco no peito...


A conversa fora interrompida com o resto da casa a ruir. Voltando-se para trás, a pequena pôde ver a criatura a rugir, caído sobre o chão, enquanto o Shinigami - bastante ferido pelo sangue que manchava a pele e roupas - voltava a levantar-se. Megumi fez um rosto triste, queria ajudá-lo, mas tinha medo do monstro, sabia que se voltasse para aquele lugar um pouco distante, poderia correr perigo e colocar em perigo os seus pais e amigo. Ela não queria isso, àquela distância achou-se segura, embora tivesse em dúvidas sobre quanto o seu recentemente conhecido iria suportar aquilo tudo.

- ... e tem uma máscara feia no rosto. Ele consegue falar! - num tom inocente e surpreso, ela explicava com gestos.
- Agora eu sei... Não tinha a certeza mas... - o homem desviara o olhar para o chão, mantendo-se um pouco pensativo, confuso e tristonho. - ... quando eu era da mesma idade que você, Megumi, eu também poderia ver esse tipo de monstros, mas eles sempre desapareciam misteriosamente quando eu achava que eles me iam fazer mal. Meus pais nunca acreditaram em mim e meus amigos me zombavam.
-Ta-Takahashi! - num misto de dúvidas e irritação, a mulher acabou por acreditar. - Você está me dizendo que a nossa filha herdou essa sua... ''Coisa'' de ver monstros?!
- Desculpe, Yui, por não ter falado antes! Eu julgava que isso era somente imaginação minha, nunca - jamais - pensei que nossa filha iria ver coisas dessas! - Discutia.
- Parem! Não é hora para...
- Pequena! Cuidado! - numa voz fraca, ao longe, Kazuto alarmava para o perigo um pouco tardio.


À frente dos seus olhos, os pais foram varridos para o lado esquerdo, causando graves danos aos seus corpos. Tossindo o sangue, a mãe ganhava a coragem para tentar se movimentar até Megumi, para a salvar dum perigo invisível. Fraca, chamava a filha, sentindo-se zonza, a perder a consciência.

- Ka...san... To...san... - ignorando a dor no olho, a sua frustração, raiva, medo, tristeza assumiam a forma de caretas, lágrimas, tremores e paralisia.
- Kihahahah! Agora nem mesmo o Shinigamizinho me poderá deter! Olha só, olha só! Três vítimas ainda vivas! Meu dia de sorte...! - passando a língua bifurcada entre os dentes, aproximou-se de Megumi e agarrou-a violentamente, levantando-a sobre o ar.
- K-ka-san... - encarando os pais em sangue, sentiu-se indefesa, sem forças, assustada, não conseguia mover-se, culpava-se pelas feridas dos seus ente-queridos.


Utilizando-se das habilidades como Shinigami, Kirigaya moveu-se o mais depressa possível, para ajudar a garota. Enquanto era esmagada, pôde ver os lamentos da sua mãe, que lutava para se manter desperta, já o pai, ciente do seu destino, sobre a existência de outros mundos e outros seres - e também pela maioria dos ossos partidos - não se debateu mais. O braço tremelicava enquanto a mão adentrava o bolso do casaco, retirando de lá um objeto, esticou-o em direção a Megumi e dirigiu-lhe as últimas palavras em sussurros que ela só se apercebeu ao ler-lhe os lábios com alguma dificuldade.
As gotas vermelhas atingiram o solo e depois o sangue alastrou-se pela rua toda - as paredes, o chão, a plantaão. Kirigaya chegara tarde, demasiado tarde, cortara o braço da criatura quando Megumi já fora esmagada. Levou uma sapatada forte e, também ele, acabara arrumado, com as costas tidas contra uma parede. O Hollow, irritado e em dores, farto de ter aquele Shinigami a incomodá-lo, utilizou-se do seu poder, concentrando a energia escarlate na ponta do seu indicador, disparando-a sobre o salvador, acabou por fazer um buraco - igual ao seu - no peito do Shinigami.
Ainda despertando, o fantasma de Megumi separava-se do corpo da mesma, revelando-lhe agora uma corrente quebrada sobre o peito. Ainda confusa, traumatizada e assustada, olhava à volta. O Hollow estava livre, sobre os corpos maltratados dos seus pais, certificando-se de acabar com o último suspiro de vida deles. Megumi caiu sobre joelhos, chorava, soluçava, sobre o próprio corpo agora irreconhecível. Em gargalhadas estridentes, a besta segurava os dois corpos sem vida, engolindo-os, juntamente com as suas almas. Pelo ar, o objeto deixado pelo pai - a única coisa que a faria lembrar deles, caso ela sobrevivesse - caía, atingindo o solo sem violência ou ruídos. Tossia, o garoto de cabelos vermelhos levantava-se pela última vez, murmurando alguma coisa para si, enquanto cambaleava para a frente. A espada fora erguida acima da cabeça, o braço tremia, e o simples balançar da mesma originou uma lâmina azulada que cortou o crânio daquele que se alimentava. Caiu novamente, a mão poisada sobre o peito que esguichava o sangue, o demónio desaparecera sem deixar restos, Megumi vira uma oportunidade de pegar o legado do seu pai, e correu instintivamente contra o objeto, agarrando-o, voltou contra Kazuto, em pânico.


-Meg...umi... - afogando-se no seu próprio sangue, o salvador tentava erguer o cabo da espada até à cabeça da criança.
-Onii-san! Onii-san! Não morra, por favor, não morra! Você não pode me deixar sozinha, não pode! Onii-san! O que eu faço, me diz o que eu faço! - agarrando na mão deste, ela gritava, em completo desespero.
-Des...culpe-me... - tossiu, o cabo da espada atingiu a testa de Megumi, e este sorriu. - Sal... Salvei seu pai... Durante tantos anos... - o sangue era expelido pela boca, já não duraria muito mais. - E não fui capaz de salvar a sua filha... Sou... Ridículo... Me deixe... Te levar para um lugar melhor...
- Não! Ka-nii-san! Não vá! - a ponta dos dedos alcançou a bochecha do homem enquanto o seu corpo se iluminava e começava a desfazer-se em pequenas pétalas azuis, as suas últimas gotas salgadas atingiram o solo com o seu desaparecimento.


A mão cansada do Shinigami deixara-se cair sobre o solo e, num último puxar de ar, a sua consciência foi-se, eternamente, para nunca mais ser visto...
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MensagemAssunto: Re: O Passado Esquecido   O Passado Esquecido Icon_minitime1Sáb 3 Nov - 0:35

" O Passado Esquecido "

Capítulo IV - A Nova Vida


Os seus olhos se abriram, a visão embaciada só lhe permitiria ver as cores mais claras, o branco de alguns edifícios, o acastanhado claro do solo abaixo dos seus pés e o Sol irritante sobre a sua cabeça. Aquela garota, acabara de chegar do Mundo Humano, materializava-se juntamente com tantos outros, vindos de todos os lados, e todos eles pareciam confusos sobre onde e como foram ali parar. Ela estava paralisada, com a cabeça erguida e um olhar distante que se dirigia à mais afastada nuvem sem forma. Nas suas mãos, o objeto ensanguentado era apertado sem medir forças, e depressa ela acordara do seu transe.

- Garotinha... Garotinha! - a mão áspera tocou-lhe o ombro, o que a chamou a atenção e causou um movimento brusco de repulsa. Este encarava-a com um olhar melancólico, mas depressa se pôs a sorrir. - E pensar que uma pequena garota como você veio para aqui... Tome, pegue, eu lhe direi onde ir.

Esticou-lhe o braço, entre os dedos sujos e enrugados, encontrava-se um papel, um ticket, que lhe diria aonde ela iria morar, que lhe guiaria ao encontro do seu mais cruel destino. Ela fixou-o com um rosto atónito, alternando o olhar entre a mão do homem e a sua cara. Elevou a sua mão, num gesto para pegar aquele pequeno bilhete branco, e fora ai que ela reparara no que prendia entre dedos.

- O que é isto?... - abrira a mão e fitava o tapa-olho incrédula, as imagens perturbadoras dos seus familiares banhados em sangue passou-lhe pela cabeça, acabando com a calma dela. - Onde... Onde estou?! Quem sou eu?! O que aconteceu?! Não! Não vão, não me deixem sozinha!

Poisou as mãos sobre a cabeça, puxava os cabelos freneticamente e começou a retorcer um, dois e vários passos, até tropeçar no próprio pé e cair sentada. Estava assustada, esquecera-se de tudo, o trauma de perder a família e um amigo importante causara um choque mental que a obrigara a esquecer-se de tudo, duma forma a proteger-se contra a dor, mas isso só significava encontrar a solidão, a mais terrível escuridão no mundo, e perder-se em dúvidas, perder-se numa busca sem volta do seu ser perdido. As gotas salgadas e incolor escorregavam-lhe pelo rosto e uniam-se na ponta do seu queixo, caindo em poucas porções até molhar o solo. Soluçava, não conseguia parar, ela sabia que havia perdido algo importante, mas não sabia o que era, tudo o que tinha era aquele objeto e as imagens obscuras de dois seres sem rosto, coloridos de um vermelho escuro.

- Porque eu estou aqui?! Eu... Eu não sei! - puxou os joelhos contra si, encostou a cara a eles e deixou-se estar, enquanto choramingava, sem olhar para nada.
- Garota? - imediatamente sentiu-se responsável por ela. Ele não sabia da história, mas era demasiado óbvio que ela havia sofrido algo terrível para estar ali. - Está tudo bem, está tudo bem! Eu irei te ajudar, vamos, eu irei te levar a quem possa cuidar de você...


Abraçou a garota, envolveu-a com os seus largos e magros braços, deu-lhe a conhecer - aliás - a reconhecer, o calor de um corpo humano. Virou o ticket até os seus olhos poderem ler o que ali estava escrito, e o seu rosto tristonho mudou para uma face numa terrível agonia, num medo inconfundível do que ali estava escrito. Engoliu em seco, olhou em volta, as pessoas ali presentes estavam demasiado ocupadas para perceberem o que quer que fosse. Fechou os olhos àquilo que estava prestes a fazer, rasgou o papel, dividiu a palavra ''Zaraki'' em dois, esqueceu o fato de que aquela inocente e indefesa garota iria para um dos distritos mais perigosos de Rukongai. Afastou-se dela, esta ainda soluçava apesar de tudo, concentrou-se em retirar outro ticket e leu-lhe a descrição. Desta vez, arranjara um lugar no primeiro distrito, um dos mais pacíficos distritos de Rukongai: Junrinan. Inspirou fundo, puxou os cabelos grisalhos para trás e sacudiu as vestes negras que levava, erguendo-se. Esticou-lhe o braço uma vez mais, desta vez, com a mão aberta, num sinal de quem iria ajudá-la.

- Venha garotinha, eu vou-lhe ajudar, vou levá-la até à sua casa, vamos procurar quem te cuide. - disse, obrigando-se a si mesmo a prometer ajudar aquela desconhecida.

Os soluços cessaram, ainda assim ela não se movia e, segundos depois, a cabeça baixa começava a subir até cima, o olhar heterocromático fixava o homem com hesitação - e com dificuldade. Limpou as lágrimas que lhe ficaram presas nos cantos dos olhos e começou a esfregar o esquerdo, o olho verde da qual a visão não a ajudava em nada.

- Oh? Você possui uns olhos curiosos, garotinha. Um verde e um vermelho, que estranho. - comentara o Shinigami desconhecido, sorrindo-lhe.
- Olhos... Verde e vermelho? Garotinha... - desta feita, reparara nas roupas dele, apenas para juntar a mais um fardo de sofrimento.


O sorriso brilhante, os cabelos vermelhos e os olhos carinhosos daquela pessoa. A vestimenta negra e a espada segura pelo laço branco à cintura, os risos, as pequenas palavras... Tudo isso passava como um flash pela cabeça de Megumi a cada batimento cardíaco, isso enlouquecia-a, ela não se recordava de nada, mas aquelas imagens sangrentas na cabeça, aquele monstro, aquele ser completamente acabado, ela tinha a certeza de serem reais, ela tinha a certeza de que toda a sua vida lhe fora roubada em meros minutos. Gritava novamente, empurrara o homem com toda a sua força, acertava-o com as mãos abertas, tentando inutilmente abalá-lo, tentando derrubá-lo sem sucesso. O choro começou novamente, o homem já não sabia o que fazer, apenas a pegou, encostou-a sobre o seu ombro e começou a caminhar, a penetrar pelas correntes das filas dos mortos, a passar por gente curiosa, até chegar às ruas retilínea cheias de pequenos edifícios sujos e maltratados. Ela apertava-o nos ombros com toda a sua força, houve um momento, que até os seus braços perderam a força, debilitando-os, fazendo com que ambos caíssem e o homem, coitado dele que se preocupava, não foi capaz de se desviar para evitar danos à garota. Esta caiu-lhe em cima com os joelhos, ferindo-lhe temporariamente as costelas.

- Garotinha... Você é pesada! Poderia sair um pouco, por favor? - tentou forçar um sorriso, mas estava difícil naquela situação.
- Meg... - ela sabia a palavra certa, sim, ela sabia, mas ainda teria que pensar para chegar ao seu todo, ao completo nome que lhe fora dado desde a nascença. - Megumi...
- O quê? - parando com os seus pensamentos, com as suas dúvidas sobre quanto ao que fazer com aquela pequena e problemática garota, o homem tornou-se sério, prestou atenção às palavras daquela recém-conhecida e chorona.
- Megumi! - gritou-lhe nos ouvidos, levantando-se subitamente e afastando-se do mesmo, eliminava as suas lágrimas e franzira o sobrolho como quem está irritada. - Meu nome é Akira Megumi, não garotinha, velho rabugento!


Sua personalidade mudara de um segundo para o outro; de uma chorosa que gritava, passou a uma garota atrevida e direta. Os seus punhos cerrados mantiveram-se até que o homem começara a rir, a partir dai, ela perdera toda a força, deixara-se acalmar, fixando o Shinigami com alguma dúvida. Esfregava o olho esquerdo uma vez mais, piscava-o mais três vezes que o necessário, e o acompanhante percebera o porquê disso. Levantou-se do chão, uma vez mais, sacudiu as roupas e aproximou-se da pequena, agachando-se para poder ficar à mesma altura que ela.

- Você tem um problema nesse olho? - ele olhou-lhe para as mãos, reparou no objeto e não hesitara em agarrá-lo, avaliando-o cuidadosamente. - Você realmente sofreu alguma coisa não foi... Terá de servir! - puxou o elástico com uma mão, subiu os braços e deixou-o passar pelos cabelos negros de Megumi, deslizando o quadrado esbranquiçado até ao olho esquerdo, obrigando-a a fechar esse olho e deixou o tapa-olho nesse mesmo lugar. - Pronto! E agora, está melhor? Depois poderemos lavá-lo com cuidado e tirar essa cor...
- Oh! Vejo melhor! Como você fez isso, velho?! - ela levantava o tapa-olho constantemente, procurando encontrar uma razão para a mudança repentina na sua visão.
- Eu não fiz nada... - poisou-lhe a mão sobre a cabeça, voltando a erguer-se ao seu tamanho normal. - Você é engraçada, pequena de um olho vermelho e um olho verde.
- Olho vermelho...? - repetiu com alguma dúvida, e então, a imagem daquele rapaz sorridente voltara-lhe a aparecer na mente de novo. - Não! Não pode ver, não pode olhar, ninguém poderá ver esse olho! Não gosto que falem dele, não gosto que comentem, não, não e não!


Começou a barafustar, brigando novamente com aquele homem. Ele tentou acalmá-la com palavras, percebendo a necessidade desta entender onde se encontrava, explicava-lhe da forma mais simples que conhecia, que ela agora iria viver com pessoas que ainda não conhecia, que ela estava num lugar diferente daquele que até agora ela havia vivido. Mas ela não se lembrava do outro lugar, tudo o que se lembrava era de rostos contorcidos em dor, da cor vermelha escura do sangue e do sorriso daquele garoto que trajava roupas escuras. Tudo isso a fazia chorar, tudo isso a fazia tremer, a fazia ficar com medo, com receio, com mais dúvidas, eram uma confusão que ela simplesmente não queria ter.
Contrariada, foi puxada pelo Shinigami pelas ruas do 1º distrito de Rukongai, até chegar a uma velha casa, onde algumas rachas eram óbvias na pintura antiga, e as janelas estavam cobertas com várias madeiras. Bateu à porta pela primeira vez, ninguém veio, insistiu, e minutos depois, a porta destrancou num estalo, relinchou enquanto se abria - talvez à falta de óleo - e uma pequena mulher cheia de rugas da idade se mostrava do escuro, questionando o que o Shinigami quereria dela. Ele mostrou-lhe Megumi, puxou-a para a sua frente e poisou-lhe as mãos sobre os ombros. A pequena garota olhava a mulher surpresa, ainda que um pouco assustada por não reconhecer, e não mencionava uma única palavra.


- Por favor, poderia cuidar dela? Ela chegou agora a Rukongai, e ela está amnésica. Ela não se recorda de nada da sua vida passada e está assustada, ela não sabe sequer quem é exatamente e está com uma alteração de personalidades constante... Eu não a posso deixar sozinha por ai, por favor, eu rogo-lhe, cuide dela! - O Shinigami erguera os braços acima da cabeça, curvando-se, e juntou as mãos num sinal de reza, esperando por uma resposta.

Um silencio profundo dera-se, Megumi trocava olhares com os dois, girando à volta de si mesma, sem perceber nada. Uma vez mais, voltava ao seu estado apático e confuso, parando de se mover, ficando apenas a encarar o vazio, embora mais parecesse que ela fixava a porta com bastante intensidade. A pequena velha, de expressão enfurecida, depressa cedeu e mostrou-se mais compreensiva e indefesa. Abriu a porta na sua totalidade, mostrando o conteúdo de uma casa que, já se esperava ser tão pobre como aparentava.

- Tudo bem... Eu e meu marido cuidaremos dela, apenas porque você parece estar falando a verdade, e eu não seria capaz de abandonar uma criança. - sorriu, mostrando ainda mais rugas do que já eram óbvias, acariciou o rosto da garota apática, o que a despertou uma vez mais, deixando-a perdida no ambiente. - Você é nossa filha agora.
- Filha?... - mencionara numa voz fraca e fina. - Mamã?...
- Isso! Vem, nós cuidaremos bem de ti pequena! - guiou-a até ao interior da casa e depressa voltou-se ao homem que a trouxera. - Ela tem nome?
- Eer... Sim... Sim, tem. Acho que ela disse ser Akira... Akira qualquer coisa... - coçou o queixo, voltando o olhar para o alto para tentar lembrar-se. - Ah sim! Akira Megumi! Obrigado por cuidar dela, mesmo muito obrigado! Eu tentarei ajudar no que puder mas por favor... Não a abandone! Eu vi, eu vi com meus próprios olhos o sofrimento que ela carrega por detrás do brilho dos seus olhos e... Aqui entre nós... Não comente sobre os olhos dela, ela possui cada um de uma cor diferente, mas se mencionar isso... Bom, eu não sei direito, mas alguma coisa na vida dela faz com que ela fique assustada e confusa caso mencionem sobre a cor dos olhos dela, então, evite falar sobre isso.... - fez uma pausa, um silêncio pouco duradouro. - ... E ela tem algum problema de visão, e como materiais desses são escassos aqui em Rukongai, apenas a faça utilizar aquele tapa-olho que ela possui. Mas lave o objeto com o que puder... Se reparou, está sujo de sangue, ela já vinha com aquilo quando a encontrei, eu não sei o que houve mas... Tenho a certeza que ela está traumatizada com isso.


Assentiu com a cabeça, as sobrancelhas elevaram-se demonstrando um rosto melancólico e ela despediu-se do homem. A porta fechou-se à sua frente, apesar disso, ele não saíra de lá, a consciência pesava-lhe, por não poder fazer nada em relação àquele pequeno ser que nada sabia, que nada se recordava, que fora apagado do livro das existências, como se aquele nome, aquela figura, jamais houvesse existido.
No interior da casa, Megumi procurava memorizar todo o recanto, notando em cada detalhe do sofá um tanto rasgado, das molduras partidas e tortas, do chão em madeira que crepitava com os passos de uma pessoa. A idosa apareceu por detrás, tateando-lhe as costas com os dedos que tremelicavam, velhos da idade. Assustou-se, voltando-se novamente, a recém-morta encarava a nova mãe com alguma aflição no olhar. Fora envolvida num abraço cheio de ternura, e um homem de bigode e quase sem cabelos, estes - aqueles que ainda existiam - eram brancos. Perguntou à mulher o que estava havendo, guiando as duas presenças até ao sofá que, apesar da aparência suja e velha, era bastante confortável. A mulher explicou-lhe tudo, a garota manteve-se deitada num canto, pensando sobre todas as questões que lhe vinham à cabeça, as questões que ela queria - a todo custo - que fossem respondidas.


-... Portanto, alguma coisa aconteceu antes de ela aqui chegar que lhe causou um trauma e a fez perder as memórias dela? - tentando assimilar a informação, o velho coçava a cabeça quase careca.
- Isso, isso... Teremos que ser pacientes com ela, mas veja pelo lado bom, já temos a filha que sempre quisemos ter! - levou a mão esquerda até à do homem, ambos sorriram, era um desejo que tinham desde à muito tempo, desde que se conheceram em Rukongai. - Megumi?
- Hã? - levantara a cabeça alertada pelo chamamento do nome, encarando a sua nova família com um olhar duvidoso.
- Suas roupas estão um pouco maltratadas... E temos que limpar esse seu tapa-olho, vamos, tenho uma roupa prática e perfeita para você! - levantou-se, segurou a pequena pela mão e guiou-a ao longo da casa, até a um quarto onde a mobília era escassa.


A roupa fora trocada, agora possuía uns calções e uma tshirt acinzentadas, tão monótonas como um céu limpo e azulado. Retiraram-lhe o tapa-olho, com muito trabalho, pois ela insistia a que este ficasse sobre o olho, mas no fim, as suas forças não foram suficientes para combater as dos outros dois. As sua roupa anterior, juntamente com o objeto que carregava, foram lavados em água e colocados sobre um fio para secarem. O tapa-olho, por ser uma coisa pequena, fora o mais rápido e rapidamente recuperado pela garota calada, volvendo a esconder um olho que, após uma olhada mais atenta e próxima, os velhotes puderam constatar ferido, com uma horrível e enorme cicatriz atravessando-lhe o olho na vertical. Nenhum dos dois comentara o bizarro que era os olhos da pequena, talvez fora por isso que esta não tivera um ataque de choro e gritos subitamente.
Os dias passaram-se, tudo o que ela fazia era sentar-se a um canto e passar lá horas, a olhar para o nada, para o vazio, perdida nos seus pensamentos, entristecendo-se cada vez mais, por não saber mais sobre si mesma e, com isso, deixando os novos país preocupados... Megumi fora apresentada a outras crianças, numa tentativa de que esta fizesse amigos, durante muito tempo - várias semanas - nenhuma ação cómica resultava para lhe arrancar um sorriso, nem sequer para fazê-la mover-se do canto daquela casa, mas cedo acabaria por criar uma grande amizade com aquele grupo de 3 garotos, esquecendo-se das suas incertezas, das suas dúvidas, do seu passado interrogativo...
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