Adorei a noticia do filme, eu ainda não tinha visto e queria muito vê-lo. Ainda mais numa companhia tão agradável como a de Yoshiro.

-Ah que legal! Vou adorar vê-lo!

Enquanto isso Yoshiro me levava pela casa me apresentando a ela. Era muito grande e bonita, com certeza eu ficaria perdida ali se ele não estivesse comigo.

-Muito grande sua casa Yoshi-Chan, que exagero... Pra que tudo isso? Rsrsrs brincadeira.... rsrsrsr –Caio na risada, gostava de brincar com Yoshiro, ele era divertido.

Ao chegar à sala uma silhueta me chama a atenção. Havia mais alguém ali. Fiquei parada frente à porta paralisada. Cheguei perto do ouvido de Yoshiro e cochichei.

-Quem é? –Perguntei curiosa num volume no qual só ele ouviria.

Estranhei um pouco em ver outro shinigami ali, afinal de contas Yoshiro estava tão entretido comigo que parecia mesmo ter esquecido sua outra visita, eu ri por dentro, não tinha como não rir da situação. Fiquei um tempo ali a porta parada absorta em pensamentos e mal percebi que havia sido apresentada ao shinigami e também mal notara que o mesmo havia se virado.

-Ah, perdoe minha distração... –Digo ao perceber os dois rostos virados para mim. Meu rosto se avermelhava como uma chaleira chiando quando a água ferve.

-Muito prazer, senhor. –Disse numa leve reverencia. - Sou Daisuke Ayame. Shinigami novata do esquadrão de Camélia. Irmã do terceiro em comando por lá - Kuro – Após uma pausa continuei. - Bom eu ainda não sei, mas adoraria experimentá-lo. - Disse em resposta ao sakê.

O comentário repentino de Yoshiro me assuntou. Babar? Mas porque ele disse uma coisa dessas? Me senti um urso alvo de caçadores em época de caça. Agora sim tinha certeza de que meu rosto havia virado um pimentão.

-Ah Yoshiro-Kun, se comporte... –Disse baixinho repreendendo-o.

Aquela discussão estava me deixando com náuseas quando então desisti e fui me sentar no sofá.

-Licença. –Pedi ao shinigami e me sentei ao seu lado. –Poderiam parar de prolongar esse assunto? Estão me deixando envergonhada. Ah, não Yoshiro-Kun vou ficar por aqui... –Disse olhando a garrafa de sakê em minhas mãos. -Poderia me trazer um copo? Não vou agüentar tomar tudo isso no bico... Mas o que quis dizer com “podem vim ou ficar ai conversando” não entendi.

Minhas palavras eram sinceras, eu não entendia mesmo porque ele havia dito aquilo e também não entendia seu comportamento estranho. O que será que estava acontecendo ali? Será que ele já estava bêbado? Fiquei me perguntando enquanto esperava suas respostas. Talvez lúcidas ou não.

Eu ria com as palavras e as caras de Yoshiro, principalmente quando mencionou estar dando um “sapeco” no Utsuyoumi. Foi engraçado. Virei-me ainda rindo para ele.

-Nossa! Levando sapeco do Yoshi-chan quando foi isso? Rsrs – Perguntei animada.

Três pessoas falando ao mesmo tempo, ouvi Yoshiro dizer também que ficou sabendo do novo capitão, mas ainda não o conhecia. Dei de ombros fazendo careta, pois esperava algumas fofoquinhas do novo capitão...

-Ouvi dizer que ele é meio novo... –Comentei sem animo logo em seguida.

Depois disto eu ainda perdida em pensamentos ouço Yoshiro dizer algo e rir logo após. Fiquei meio perdida no inicio, tentando saber qual era a graça ate cair à ficha e eu começar a ficar vermelha e sem graça.



-Hã? Rsrs paqueras? Horas essa... –Cruzei os braços na defensiva, e ainda vermelha continuei. –Eu não tenho nada disso, nada, nada, nadinha U.U não faço essas coisas... Te parece Hun’... –Virei o rosto bruscamente para a parede, estava mais uma vez virando um tomate.

"To ficando mole mesmo hein!" Ppensei comigo.

Dando um pigarro me virei olhando novamente para eles, tentando disfarçar.

-E vocês? –Perguntei cética aos dois. –Como vai indo as “paqueras”?

A voz “dolorosa” de Yoshiro fez meu corpo estremecer. Eu não entendia, talvez não fosse mesmo a Kyomi, mas então quem seria? Perguntava-me com os olhos aflitos encarando o chão.

-Me desculpe Yoshi-Chan, Utsu-Chan... –Disse tristemente. –Eu realmente não entendo o que vocês estão querendo dizer, mas se quer saber Yoshi-Chan... –Me aproximei de Yoshiro lentamente segurando seu rosto entre minhas mãos. –Ela deve ser uma garota de muita sorte, eu gosto muito de você, você é... Muito especial, é meu melhor amigo. E sabe que pode contar comigo... –Abracei-o fortemente e não queria largá-lo tão rápido, adorava muito aquele menino.

-Você é muito especial Yoshi-Chan... –Murmurei ao pé de seu ouvido enquanto ainda o apertava. –Qualquer coisa me avise, e saiba que se ela o fizer sofrer ela vai se ver comigo seriamente!

O soltei sorrindo e percebi que meus olhos tinham se enchido de lagrimas. “Que piegas” Me virei relutante e caminhei ate a porta.

-Esta tarde, melhor ir pra casa... Outro dia eu lhe faço outra visitinha... Tenham uma boa tarde... Ate a próxima Utsu-Chan cuide do meu amiguinho... –As lagrimas se transformaram um belo sorriso que ao abrir a porta pude ter a certeza de que precisava dele. Sai e fechei a porta rapidamente e então desapareci num shumpo veloz antes que Yoshiro tentasse me impedir de ir, novamente.

Esqueci-me completamente de que o shunpo do Yoshiro era mais veloz que o meu. Um descuido apenas e ele já me alcançava com facilidade. Olhei para trás, seu rosto não estava saudável, estava triste, me perguntei o porquê se eu não havia feito nada de errado, e por mais que soubesse que ele viria atrás de mim novamente não sabia por quê.

Voltei a olhar para frente antes que meus pés me fizessem cair e senti algo bater com força no meu corpo. No momento em que caia pensei que fossem mesmo meus pés que haviam tropeçado uns nos outros, mas já rolando no chão senti algo rolando comigo, ai eu entendi que Yoshiro tinha pulado em mim.

Quando paramos de rolar seu corpo ficou sobre o meu, ele era extremamente pesado e estava me sufocando. Minhas mãos tentavam afasta-lo sem nenhum resultado. E então ofegante parei para soltar uma bronca quando vi lagrimas escorrerem de seus olhos. Fiquei chocada, não sabia o que dizer. O silencio rompeu quando sua voz chorosa ecoou ate meus ouvidos.

Ouvi suas doídas palavras sem conseguir ter nenhuma expressão, não sabia o que dizer a ele. Como isso tudo havia acontecido, e eu boiando sem nem perceber os sentimentos do meu melhor amigo, talvez eu não o conhecesse tão bem como pensava. Talvez eu não fosse uma boa amiga como pensava ser, ele cresceu se transformou e eu nem notei, seus sentimentos, suas dores, nada.

-Yo-Yoshiro-k-kun... –Gaguejei sem conseguir terminar a frase.

Ele se levantou e caminhou um pouco em direção a sua casa, consegui me sentar e cruzar as pernas, meu cabelo escondia quase todo meu rosto.

-Yoshiro-Kun! –Consegui dizer firme enquanto levantava com dificuldade e me aproximei.

-Me desculpe não perceber... O-olha... –Abaixei a cabeça me sentindo culpada.

-Na casa do Kuro... –Dei uma pausa longa. –Eu não fiquei brava com você, sei que não foi sua culpa sua. Por mais que ele tenha falado coisas que não devia eu também não to brava com ele, ele é meu irmão, é como você que é meu melhor amigo que eu considero quase como um irmão também. Você também não pode se culpar por estar gostando de mim, a gente não escolhe essas coisas, e... E você sabe que eu gosto de outra pessoa. Não posso ter nada com você, sabe disso. É meu amigo. Nada alem disso... Eu sinto muito. –Abaixei a cabeça. –Na sua casa, eu senti que não estava bem, talvez tenha sido meu sexto sentido feminino me avisando. Só não imaginava que o problema era eu. Gosto muito de você e por isso fico mal quando você também esta. Mas é um gostar diferente, eu não quero perder sua amizade, não quero ter que me distanciar, mas você não esta me dando escolhas. Acredite eu sofreria tanto quanto você. Pode parecer egoísmo, mas eu preciso de você por perto. Mas não quero que sofra, me ajuda... Por favor me ajuda.

De repente me vi abraçando Yoshiro pela cintura. Encostando o rosto em seu peito e lagrimas escorrendo de meu rosto e molhando sua roupa. Era reconfortante, mas eu estava perdida sem saber o que fazer.

-Me des-cul-pe. –Disse separando as silabas com a voz rouca.

Sentir-me presa ali aos braços de Yoshiro reconfortava-me e destruía-me por dentro ao mesmo tempo em que me dava forças. Sentia-me uma egoísta, e me perguntava por que, ou era eu ou ele, mas porque eu não podia me sacrificar por ele? Porque ele é que tem que fazer isso por mim? Porque não consigo me afastar, sem chorar, sem temer jamais ter sua amizade novamente para reestruturá-lo? Meu coração se apertava dentro de mim como se precisasse de mais espaço, mas não conseguia tê-lo. Senti-me como uma criança tentando por mais um brinquedo em uma caixinha em que já esta cheia. E isso era errado, brincar.

Suas palavras eram sinceras tal qual eram as minhas, por mais que confusas fossem. Percebi meu queixo tremendo e os forcei a para-los. Tentei dizer algo, mas minha voz falhou, fiquei uns segundos pensando, pensando nos dois. No sol e na Lua. Sorri involuntariamente com isso.

-Obrigado Yoshi-Chan... Muito obrigado mesmo, sei que vai ser difícil pra você, mas eu agradeço o esforço, prometo recompensá-lo depois, você é um grande amigo. Não quero que sofras por mim, não quero que chores nem que se empeça de tentar ser feliz. Ficaria triste com você... –Dei uma longa pausa e recomecei. – Vou ser sincera, me vejo distante com uma gaiola em mãos, e nela há um pássaro lindo dentro, eu amo esse pássaro, o amo como um amigo, um irmão. Amo tanto que adoraria tornar sua felicidade a minha felicidade, pensei então em solta-lo, para viver em seu habitat natural, junto com outros pássaros. Junto com a natureza de onde não devia ter sido retirado. Mas ao abrir a portinhola vejo uma previa do futuro e me vejo solitária, olho para uma gaiola vazia onde anos atrás tinha um pássaro que agora deve estar feliz em seu ninho. Fico feliz, mas ao pensar novamente me vendo naquele estado vejo que se pudesse refazer a historia eu não teria soltado o lindo pássaro. Teria fechado a portinhola e viveria com a culpa de não tê-lo soltado, mas a culpa seria maior ainda se eu não o tivesse. Entende o que quero dizer? –Me afastei de Yoshiro, a pergunta não era para ser respondida apenas analisada. Um lindo sorriso conseguiu abri-se em meu rosto.

-É melhor eu ir pra casa, já esta ficando tarde, Utsu-Chan também esta na sua, não o deixe esperando. Um outro dia nos falamos... Quem sabe. –Me virei em direção ao horizonte e caminhei lentamente para ele, o sorriso ainda brilhava em meu rosto e a imagem do pássaro ainda jazia em minha mente. Mas ele estava livre.

Antes de sair Yoshiro diz mais algumas palavras, agora ele parecia estar melhor e isso também me deixava melhor.

-Pode deixar Yoshi-Chan... Eu venho lhe ver... Se cuide também, por favor. –Me viro ainda sorridente enquanto guardava a imagem do encantador sorriso do Yoshiro.

Utsuyoumi nos olhava pela janela, o vejo de longe e me despeço novamente com um aceno de mão. Então volto a caminhar em direção a minha casa bem mais tranqüila.